Na tarde desta quarta-feira (22), aconteceu Audiência Pública para fazer a Discussão sobre o Hospital Colônia de Itapuã, o evento foi presidido pelo vereador Fabrício – MDB, proponente da discussão. Compuseram a mesa autoridades ligadas ao Hospital; Ex-diretor do Hospital Colônia de Itapuã, Alexandre Godoy, ex-subprefeito de Itapuã, Márcio Lemos, a Coordenadora do Movimento de Reintegração de Pessoas Afligidas pela Hanseníase – MORHAN, Magda Chagas.

O evento recebeu moradores, entidades e representantes do Morhan, e demais pessoas ligadas ao Hospital Colônia de Itapuã. A pauta central da Audiência é discutir o futuro do Hospital e dos moradores.

Foto: Henrique Lima

MORHAN – O Morhan é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 6 de Junho de 1981. Suas atividades são voltadas para a eliminação da Hanseníase, através de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população.
O Morhan luta pela garantia e respeito aos Direitos Humanos das pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares.

Magda frisou que as ações precisam ser feitas de duas formas, tanto nas políticas públicas quanto vindas de entidades privada.

“Precisamos e queremos visibilidade, a hanseníase precisa ser tratada de forma holística, que abrace o todo, ou seja, de maneira transversal. O Brasil é o segundo país com mais casos da doença. O Hospital Colônia de Itapuã tem capacidade, não somente em nível de saúde, precisamos levar esses assuntos para as áreas da educação, da assistência social, temos um enorme potencial para o desenvolvimento de pesquisas. Quero frisar que essa causa não é partidária, é preciso ter ética e respeito para tratar de um assunto tão importante”, diz Magda.

A Coordenadora do MORHAN alerta para a importância de voltarem os debates para as pessoas que enfrentam a hanseníase, que lidam com a discriminação e estigma que a doença carrega.

“É relevante que lutemos pela preservação do Hospital e que possamos considerar a população que depende daquele lugar. O diálogo é fundamental, de maneira que sejam garantidos os direitos humanos e sociais de quem lá reside e trabalha. Promover a discussão sobre a hanseníase é importante, assim como falar sobre as formas de tratamento”, diz Magda Chagas. Ela completa que as pessoas acometidas pela doença ainda sofrem o estigma em relação à enfermidade e há necessidade de esclarecer a população acerca da hanseníase.

Alice Cruz, que é a Relatora Especial da Organização das Nações Unidas – ONU sobre eliminação da discriminação contra pessoas afetadas pela hanseníase e seus familiares, participou da Audiência Pública por meio do aplicativo zoom. Cruz compreende que as antigas vilas usadas para o tratamento das pessoas atingidas pela enfermidade precisam ser vistas de forma não institucional.

“Precisamos entender e compreender que as pessoas acometidas pela hanseníase carregaram um grande estigma, então esses espaços que antes eram usados para o tratamento, tornaram-se moradias para aquelas pessoas. Resumindo, nós precisamos pensar esses processos de formas menos institucionais, e sim mais humanos, pois esses locais viram moradias”, enfatizou.

Foto: Natássia Ferreira | Magda Chagas – Coordenadora do Morhan

Artur Custódio, Coordenador Nacional do MORHAN, participou do evento através do aplicativo zoom. Na ocasião Custódio explanou que devido às políticas de higienização aplicadas aos acometidos pela hanseníase, deveria ser dada mais atenção para essas colônias.

“Estamos fazendo essa abordagem por todo o país para que se preservem essas colônias, porque esses locais são considerados patrimônios sensíveis e foi um marco na política de higienização do Brasil, que segregaram essas pessoas. Patrimônio sensível são espaços que representam dor, sofrimento, assim como os campos de concentração, que foram tombados como patrimônio sensível. O Hospital Colônia de Itapuã faz parte da história do nosso país, o hospital se tornou referência, é uma questão dos direitos humanos. Precisamos preservar a memória, a vida, precisamos avançar na proteção de Itapuã”, diz o coordenador nacional do Morhan.

DEPOIMENTO

Eva Pereira Nunes, que é moradora da colônia até hoje, falou sobre o dia em que foi levada ao Hospital Colônia, quando tinha 12 anos de idade.

“Eu estava na escola, e lembro que a professora me arrancou da sala porque eu estava com uma bolha no braço. Afastou-me das outras crianças, me deixou isolada. Falaram com a minha família, e a gente criança não entendia nada. Foi aí que apareceu uma camionete que me levou para o internato. Antes, me levaram ao posto de saúde e o médico disse ”vão ter que isolar ela”, então me prendeu num quartinho, por onde me davam comida através de um buraco. Se passou uma semana e não disseram para onde eu ia, disseram que eu duraria três meses. A camionete rodada, rodava, passava por mato e poeira, era um desespero. Vim saber só depois de muitos anos. As irmãs franciscanas foram as únicas que nos abraçaram, porque ninguém queria chegar perto da gente. A maior dor que eu carrego é que ninguém falava com a gente, no ônibus da escola, não sentavam do nosso lado, apontavam para nós”, desabafa dona Eva.

Foto: Natássia Ferreira | Dona Eva – Moradora da Colônia

Representando esta Casa Legislativa, estiveram presentes os vereadores Rodrigo Pox – PDT, Alex Boscaini – PT, Dédo Machado – MDB, Fátima Maria – PT, Markinhos da Estalagem – PSB e Eda Regina – PDT.